SBT, BAÚ DE FELICIDADES

terça-feira, 13 de julho de 2010

1° CAPÍTULO

A HISTÓRIA DE SILVIO SANTOS CONTADA POR ELE MESMO

O Menino Que Nasceu na Lapa

A Lapa, decantada em prosa e verso por poetas, escritores e compositores, é o coração sentimental do

Rio de Janeiro. Ponto de encontro da boêmia, recanto dos cabarés

e bares da madrugada, a Lapa está imortalizada em sambas e canções, como aquela de Benedito Lacerda

e Herivelto Martins, que tanto sucesso fez no Carnaval de 50,

quando o Rio ainda era a capital federal:

"A Lapa

Está voltando a ser a Lapa

A Lapa

Confirmando a tradição

A Lapa

É o ponto maior do mapa

Do Distrito Federal

Salve a Lapa"

Naquelas ruas antigas, de casas centenárias com fachadas revestidas de azulejos, vive uma gente

humilde, porque a Lapa, o que tem de bonita e tradicional, tem de

pobre e, pela sua fama, não atrai gente de posses. Foi na velha Lapa, o "bairro das quatro letras, que até

um rei conheceu", que nasceu Silvio Santos. Ali existe

uma ruela chamada Travessa Bentevi. Se o repórter fosse fatalista diria que o nome da pequena rua era

profético e que o menino que ali nasceu tinha de ser, forçosamente,

inquieto e falante como o bem-te-vi. Essa ruela fica entre a avenida Henrique Valadares e a rua do

Senado, na Vila Rui Barbosa, mas a casa onde Silvio Santos nasceu

não existe mais.

O pai de Silvio chamava-se Alberto Abravanel. A mãe tinha o nome bíblico de Rebeca, sobrenome

Caro. Ele era grego, natural de Salônica. Ela, turca, de Esmirna. Conheceram-se

no Rio de Janeiro. O verdadeiro nome de Silvio Santos, aquele que consta do seu registro de nascimento,

é Senor Abravanel. A data de nascimento é 12 de dezembro

de 1930. Na família, ao todo são seis irmãos, três homens e três mulheres. Os homens são: Henrique, o

mais novo; Léo (Leon) e o Silvio, o famoso Silvio Santos, ídolo

do público e um dos mais ativos empresários deste país. As mulheres são: Beatriz, a mais velha, Perla e

Sara (Sarita). O Léo foi sempre o mais chegado a Silvio,

na infância e na juventude. Henrique, o irmão mais novo, nasceu quando Silvio Santos já era menino.

Assim, as peraltices, os jogos e os brinquedos de Silvio sempre

tiveram a participação de Léo.

"Lembro-me de que, no tempo de menino, com 11 ou 12 anos, nosso divertimento preferido, porque era

emocionante, consistia em entrar nos cinemas de graça, usando

de todos os artifícios possíveis", conta Silvio. "Os cinemas preferidos eram o Capitólio, o Rex, o Odeon,

o Vitória, todos na Cinelândia, onde outrora palpitava

a vida noturna do Rio de Janeiro. No cine Vitória entrávamos normalmente sem pagar, porque

conhecíamos o porteiro, o bom Vieira. No Rex, passávamos por baixo da

roleta, na rua Álvaro Alvim. No Capitólio, nós nos escondíamos atrás das poltronas situadas junto às

saídas laterais, aproveitando o instante em que o pessoal deixava

as sessões. No Odeon, infiltrávamo-nos entre o público que saía e caminhávamos em sentido contrário,

andando para dentro do cinema... Isso aconteceu há muitos anos

e são essas coisas que nos fazem sentir uma saudade imensa da infância."

"O dinheiro que economizávamos com o cinema era gasto com balas de figurinhas para colecionar.

Naquele tempo havia as balas Fruna, famosas na época porque davam

prêmios aos garotos colecionadores. Era uma verdadeira mania colecionar e trocar figurinhas. Lembrome,

também, como se fosse hoje, que eu e o Léo éramos alucinados

por uma fita em série que estavam passando no cine OK, cujo título era O Vale dos Desaparecidos.

Todas as quintas-feiras eram ansiosamente esperadas por causa da

sessão da tarde, quando passavam os capítulos do seriado. Para esse dia eu e Léo economizávamos

dinheiro, porque não podíamos correr o risco de não poder entrar

de carona, e era preciso chegar bem cedo para pegar lugar no cinema, que sempre ficava repleto de

garotos. Além disso, no cine OK nossa pilantragem não dava certo,

porque o porteiro e o guarda de serviço já nos conheciam de outras paragens... Mas foi em relação ao

cine OK que aconteceu um fato que me impressionou muito, e que

talvez tenha sido a primeira manifestação da sorte, que, graças a Deus, sempre tive. O fato foi o

seguinte: em uma daquelas quintas-feiras do seriado eu fiquei resfriado,

febril, e minha mãe não nos deixou ir ao cinema. Fiquei arrasado, chorei, pedi, supliquei, mas minha

mãe foi intransigente. Com febre não me deixaria sair de maneira

alguma. Pois naquele dia o cine OK pegou fogo. Não chegou a ser uma catástrofe, mas muitas crianças e

jovens ficaram feridos com a correria que se estabeleceu. Quando

eu soube que havia escapado - quem sabe? - de morrer ou de ficar ferido, corri para os braços de minha mãe e cobri-a de beijos. A ela, talvez, eu deva o fato de

ainda estar vivo, porque ninguém poderá dizer que eu ou meu irmão não teríamos morrido na matinê

daquela tarde." CONTINUA....

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