1° CAPÍTULO
A HISTÓRIA DE SILVIO SANTOS CONTADA POR ELE MESMO
O Menino Que Nasceu na Lapa
A Lapa, decantada em prosa e verso por poetas, escritores e compositores, é o coração sentimental do
Rio de Janeiro. Ponto de encontro da boêmia, recanto dos cabarés
e bares da madrugada, a Lapa está imortalizada em sambas e canções, como aquela de Benedito Lacerda
e Herivelto Martins, que tanto sucesso fez no Carnaval de 50,
quando o Rio ainda era a capital federal:
"A Lapa
Está voltando a ser a Lapa
A Lapa
Confirmando a tradição
A Lapa
É o ponto maior do mapa
Do Distrito Federal
Salve a Lapa"
Naquelas ruas antigas, de casas centenárias com fachadas revestidas de azulejos, vive uma gente
humilde, porque a Lapa, o que tem de bonita e tradicional, tem de
pobre e, pela sua fama, não atrai gente de posses. Foi na velha Lapa, o "bairro das quatro letras, que até
um rei conheceu", que nasceu Silvio Santos. Ali existe
uma ruela chamada Travessa Bentevi. Se o repórter fosse fatalista diria que o nome da pequena rua era
profético e que o menino que ali nasceu tinha de ser, forçosamente,
inquieto e falante como o bem-te-vi. Essa ruela fica entre a avenida Henrique Valadares e a rua do
Senado, na Vila Rui Barbosa, mas a casa onde Silvio Santos nasceu
não existe mais.
O pai de Silvio chamava-se Alberto Abravanel. A mãe tinha o nome bíblico de Rebeca, sobrenome
Caro. Ele era grego, natural de Salônica. Ela, turca, de Esmirna. Conheceram-se
no Rio de Janeiro. O verdadeiro nome de Silvio Santos, aquele que consta do seu registro de nascimento,
é Senor Abravanel. A data de nascimento é 12 de dezembro
de 1930. Na família, ao todo são seis irmãos, três homens e três mulheres. Os homens são: Henrique, o
mais novo; Léo (Leon) e o Silvio, o famoso Silvio Santos, ídolo
do público e um dos mais ativos empresários deste país. As mulheres são: Beatriz, a mais velha, Perla e
Sara (Sarita). O Léo foi sempre o mais chegado a Silvio,
na infância e na juventude. Henrique, o irmão mais novo, nasceu quando Silvio Santos já era menino.
Assim, as peraltices, os jogos e os brinquedos de Silvio sempre
tiveram a participação de Léo.
"Lembro-me de que, no tempo de menino, com 11 ou 12 anos, nosso divertimento preferido, porque era
emocionante, consistia em entrar nos cinemas de graça, usando
de todos os artifícios possíveis", conta Silvio. "Os cinemas preferidos eram o Capitólio, o Rex, o Odeon,
o Vitória, todos na Cinelândia, onde outrora palpitava
a vida noturna do Rio de Janeiro. No cine Vitória entrávamos normalmente sem pagar, porque
conhecíamos o porteiro, o bom Vieira. No Rex, passávamos por baixo da
roleta, na rua Álvaro Alvim. No Capitólio, nós nos escondíamos atrás das poltronas situadas junto às
saídas laterais, aproveitando o instante em que o pessoal deixava
as sessões. No Odeon, infiltrávamo-nos entre o público que saía e caminhávamos em sentido contrário,
andando para dentro do cinema... Isso aconteceu há muitos anos
e são essas coisas que nos fazem sentir uma saudade imensa da infância."
"O dinheiro que economizávamos com o cinema era gasto com balas de figurinhas para colecionar.
Naquele tempo havia as balas Fruna, famosas na época porque davam
prêmios aos garotos colecionadores. Era uma verdadeira mania colecionar e trocar figurinhas. Lembrome,
também, como se fosse hoje, que eu e o Léo éramos alucinados
por uma fita em série que estavam passando no cine OK, cujo título era O Vale dos Desaparecidos.
Todas as quintas-feiras eram ansiosamente esperadas por causa da
sessão da tarde, quando passavam os capítulos do seriado. Para esse dia eu e Léo economizávamos
dinheiro, porque não podíamos correr o risco de não poder entrar
de carona, e era preciso chegar bem cedo para pegar lugar no cinema, que sempre ficava repleto de
garotos. Além disso, no cine OK nossa pilantragem não dava certo,
porque o porteiro e o guarda de serviço já nos conheciam de outras paragens... Mas foi em relação ao
cine OK que aconteceu um fato que me impressionou muito, e que
talvez tenha sido a primeira manifestação da sorte, que, graças a Deus, sempre tive. O fato foi o
seguinte: em uma daquelas quintas-feiras do seriado eu fiquei resfriado,
febril, e minha mãe não nos deixou ir ao cinema. Fiquei arrasado, chorei, pedi, supliquei, mas minha
mãe foi intransigente. Com febre não me deixaria sair de maneira
alguma. Pois naquele dia o cine OK pegou fogo. Não chegou a ser uma catástrofe, mas muitas crianças e
jovens ficaram feridos com a correria que se estabeleceu. Quando
eu soube que havia escapado - quem sabe? - de morrer ou de ficar ferido, corri para os braços de minha mãe e cobri-a de beijos. A ela, talvez, eu deva o fato de
ainda estar vivo, porque ninguém poderá dizer que eu ou meu irmão não teríamos morrido na matinê
daquela tarde." CONTINUA....
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